S/TÍTULO

HOSPITALIDADE, MIGUEL VON HAFE PÉREZ

O projecto de Mafalda Santos (Porto, 1980) para a presente exposição teve de dar resposta a um duro desafio que lhe foi colocado de forma não inocente: na verdade, esta artista tem vindo a demonstrar uma particular apetência pela utilização de grandes superfícies como suporte para intervenções especificamente desenhadas para esses locais. Quer se apresentem como representações figurativas que remetem para universos paralelos ao estritamente artístico, como foi o caso da obra apresentada nos Prémios EDP na Central Eléctrica do Freixo em 2007 – uma enorme face de um tigre numa espécie de alusão circense – , ou em registos abstractos como o que plasmou no chão da Fundação Calouste Gulbenkian na exposição “Sete Artistas ao décimo mês” em 2005, este tipo de estratégia criativa ancora-se no pressuposto de que a pura visualidade, neste caso a sua dimensão espectacular, consegue ultrapassar o formalismo decorativo que poderia subjazer a estes trabalhos.
Na verdade, essa tem sido uma constante no conjunto de propostas desta artista, que assim reflecte não só sobre as condições formais que cada espaço em particular lhe oferece, como paralelamente intervém numa dimensão contextual, crítica e relacional desse mesmo espaço. Participar no contexto de uma exposição intitulada Hospitalidade numa das áreas mais visivelmente degradadas do hospital, o inevitavelmente sujo pátio da central térmica, trata-se de uma metáfora vital para um processo de regeneração em curso, como se da purificação de uma ferida exposta se tratasse. O motivo decorativo a cobrir o chão do pátio, num work in progress que se vai estender para além da inauguração do evento, é vagamente reminiscente dos padrões abstractos recorrentes em culturas árabes, assim adensando o sentido de hospitalidade enquanto acolhimento de linguagens outras no imaginário do transeunte.