“7 Artistas ao 10º Mês“, exposição colectiva, com curadoria de Leonor Nazaré, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
Excerto do texto da curadora, obre a obra de Mafalda Santos, no catálogo da exposição 7 artistas ao 10º mês (2005) na Fundação Calouste Gulbenkian.:
“Em 2002 começa a surgir uma teia, em pedaços pequenos, no interior de figuras abstractas cristalizadas, para, no ano seguinte se estender em ocupações espaciais fortemente expansivas. Apesar de limitadas ao espaço da tela, essas teias, pintadas a branco com pincel muito fino são verdadeiras quadrículas de ínfimo detalhe, fios de incansável tecedeira cujo paralelismo inicial inevitavelmente acaba por se retorcer, desviar, criar nós involuntários e, por vezes, volume. Como um pano de gaze para ligadura inutilmente grande, estes enormes tecidos estendidos sobre a parede podem fazer-nos pensar em todo o corpo como um grande ferida ou queimadura que eles podem acolher. Na barreira e translucidez que criam diante de nós se encontra o desafio à vontade de os rasgar, de pôr à prova a sua resistência.
Na imprevisibilidade das direcções dos fios sentimos o carácter humano, frágil mas persistente, da manualidade do processo, intuímos ritmos, elasticidade, deformações assumidas, labor demorado e intenso, concentração e vício no gesto que faz a estrutura. Vistas como deformação de um tecido espacial, estas superfícies conduzem à imaginação dos efeitos da gravidade, das distorções de espaço/tempo, da presença invisível das forças dos corpos que se aproximam; permitem a convocação da física, das noções de fractal e de identidade quântica, como muito bem explicam Mafalda Santos e José Pereira num texto sobre o trabalho recente da artista. Pensadas como rede, no sentido mais amplo e contemporâneo do termo, convocam toda a especulação que pode ser feita em torno das tecnologias da informação e da globalização comunicacional. Para a artista, sobre o reticulado, como composição de base, pode ainda ser projectado o pensamento de Rosalind Krauss em torno da ideia de “Grelha”.
Mas M.S. fala sobretudo de “tensões subterrâneas que alteram o aspecto da rede” e na “abertura ao improviso”, num processo pictórico que sente quase como autónomo da sua decisão.
Pensado como imensa malha alastrada pelo chão e parte das paredes, essa teia adquire, nesta exposição, um estatuto de estrutura espacial real, não confinada, parte integrante do local em que nos movemos, uma espécie de rede de Harttman (geobiologia).”
Leonor Nazaré, 2005
Veja aqui mai informação sobre a participação de Mafalda Santos na exposição “7 artistas ao 10º mês” na Fundação Calouste Gulbenkian