A exposição Que horas são que horas: uma galeria de histórias parte de um convite da Galeria Municipal do Porto a três curadores para uma reflexão sobre a paisagem histórica das galerias de arte no Porto, inscrita entre a aparente abertura cultural do final da Segunda Guerra Mundial e a retração do tecido cultural provocada pela recente crise económica. Um olhar sobre esta cronografia permite compreender as muitas faces da civitas e as cumplicidades transformadoras entre artistas, agentes culturais e públicos que a conformam.
Este retrato retrospetivo atravessa as exposições independentes em livrarias que ensaiaram uma profissionalização alternativa da arte, recorda o confronto com novos públicos e espaços cívicos que só a revolução de 1974 permitiu até à celebração das inaugurações simultâneas na rua Miguel Bombarda, culminando na rede de lugares alternativos organizada para resistir à Troika.
Contra o regime ou com o seu apoio, num vazio institucional ou alimentando museus, herdeira de um contexto social conservador isento de discurso crítico e resistente à inscrição de novas gerações de artistas, a paisagem histórica das galerias de arte no Porto é feita de cidadania e comércio, de uma arte não apenas de culto, mas com valor de troca: uma galeria de histórias.
A minha contribuição para esta exposição: “Do salão ao cubo branco” 2020, 250x900cm, carimbo sobre madeira
“Mafalda Santos trabalha há mais de uma década sobre a rede do sistema artístico português, desconstruindo as ligações entre os diversos agentes que o compõem: artistas, galerias, museus, instituições e crítica. A obra Do salão ao cubo branco resulta de uma espacialização da investigação e arquivo, que foi criada especificamente para esta exposição, focando sobretudo a questão da progressão cronológica das diferentes galerias da cidade.”
Curadoria:
José Maia
Paula Parente Pinto
Paulo Mendes
Veja aqui imagens do trabalho “Do salão ao cubo branco”